A norma-padrão é o conjunto de regras gramaticais recomendadas para o uso da língua em situações formais e que exigem maior objetividade, ajudando a orientar essa forma de se falar e escrever a língua. 515w1o
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A norma-padrão é um conjunto de regras gramaticais que orienta o uso da língua em sua forma mais valorizada socialmente. Em outras palavras, são as regras de gramática vistas pela sociedade como o jeito mais “correto” e “formal” de se comunicar no idioma. Essa norma se baseia principalmente na gramática tradicional, sendo o modelo ensinado nas escolas e como referência em meios de comunicação formais. A seguir, veja o exemplo.
Nós foi no cinema e assistiu o filme que você me falou.
Nós fomos ao cinema e assistimos ao filme do qual você me falou.
Perceba que a comunicação informal apresenta mais liberdade para fugir das normas gramaticais, em prol de uma comunicação mais ágil. Já a norma-padrão é o conjunto de regras que orienta, por exemplo, que o pronome “nós” tenha verbos conjugados na 1ª pessoa do plural. Além disso, ela orienta que o verbo “ir” seja regido pela preposição “a”, assim como o verbo “assistir” (quando tiver sentido de “ver”). Da mesma forma, o verbo “falar” exige a preposição “de”, por exemplo.
Dentre algumas características da norma-padrão, algumas de mais destaque são:
A norma-padrão não existe por acaso. Esse conjunto de orientações sobre como usar a língua tem a função de facilitar a comunicação, tentando tornar o uso da língua mais homogêneo e evitando que, com o ar do tempo, pessoas de diferentes regiões em a falar de modo tão diferente a ponto de terem dificuldade para se entender. Isso é importante não apenas para garantir clareza e objetividade em contextos formais, como também para permitir que textos de circulação ampla possam continuar sendo produzidos e compreendidos pela população por diversas gerações.
Enquanto a norma-padrão é um modelo para uso da língua, a variação linguística são as diversas formas naturais que existem de se falar o idioma de acordo com vários fatores (como a região geográfica, o período histórico, a faixa etária, o nível de escolaridade, a situação de uso etc.). A linguagem informal, por exemplo, é uma das manifestações da variação linguística, tal qual a linguagem culta.
Como a norma-padrão é um conjunto de regras, conheça algumas que são básicas para uma boa comunicação na língua portuguesa.
A concordância verbal pede que sujeito e verbo sejam conjugados no mesmo número e pessoa. Exemplos: “Eu sou atento”, “Nós somos competitivos”, “Elas são inteligentes”.
A concordância nominal pede que os elementos que compõem o sintagma nominal (artigos e adjetivos, por exemplo) concordem com o núcleo desse sintagma (substantivo). Exemplos: “A rosa é vermelha”, “Os ladrilhos são vermelhos”.
Regência verbal e nominal é o uso adequado de preposições de acordo com o verbo ou com o nome (substantivo, adjetivo ou advérbio) e os complementos que os acompanham. Exemplos: “Eu gosto de doce”, “Temos muitas saudades de você”.
Colocação pronominal é a orientação de onde colocar o pronome oblíquo átono em relação ao verbo de acordo com a forma como a frase está estruturada. Exemplos: “Olhei-me no espelho”, “Eu me perguntei se aquilo era certo”.
Pontuação envolve o uso adequado de sinais de pontuação para uma leitura fluida e com ritmo harmônico. Exemplo: “Não saí de lá, mas também não fiquei por muito tempo.”.
Acentuação trata da acentuação gráfica de palavras para indicar entonação e sílaba tônica na pronúncia. Exemplos: “bênção”, “autônomo”, “rapé”.
Questão 1
(Cesgranrio)
Um pouco de silêncio
Nesta trepidante cultura nossa, da agitação e do barulho, gostar de sossego é uma excentricidade.
Sob a pressão do ter de parecer, ter de participar, ter de adquirir, ter de qualquer coisa, assumimos uma infinidade de obrigações. Muitas desnecessárias, outras impossíveis, algumas que não combinam conosco nem nos interessam.
Não há perdão nem anistia para os que ficam de fora da ciranda: os que não se submetem mas questionam, os que pagam o preço de sua relativa autonomia, os que não se deixam escravizar, pelo menos sem alguma resistência.
O normal é ser atualizado, produtivo e bem-informado. É indispensável circular, estar enturmado. Quem não corre com a manada praticamente nem existe, se não se cuidar botam numa jaula: um animal estranho.
Acuados pelo relógio, pelos compromissos, pela opinião alheia, disparamos sem rumo — ou em trilhas determinadas — feito hamsters que se alimentam de sua própria agitação.
Ficar sossegado é perigoso: pode parecer doença. Recolher-se em casa, ou dentro de si mesmo, ameaça quem leva um susto cada vez que examina sua alma.
Estar sozinho é considerado humilhante, sinal de que não se arrumou ninguém — como se amizade ou amor se “arrumasse” em loja. [...]
Além do desgosto pela solidão, temos horror à quietude. Logo pensamos em depressão: quem sabe terapia e antidepressivo? Criança que não brinca ou salta nem participa de atividades frenéticas está com algum problema.
O silêncio nos assusta por retumbar no vazio dentro de nós. Quando nada se move nem faz barulho, notamos as frestas pelas quais nos espiam coisas incômodas e mal resolvidas, ou se enxerga outro ângulo de nós mesmos. Nos damos conta de que não somos apenas figurinhas atarantadas correndo entre casa, trabalho e bar, praia ou campo.
Existe em nós, geralmente nem percebido e nada valorizado, algo além desse que paga contas, transa, ganha dinheiro, e come, envelhece, e um dia (mas isso é só para os outros!) vai morrer. Quem é esse que afinal sou eu? Quais seus desejos e medos, seus projetos e sonhos?
No susto que essa ideia provoca, queremos ruído, ruídos. Chegamos em casa e ligamos a televisão antes de largar a bolsa ou pasta. Não é para assistir a um programa: é pela distração.
Silêncio faz pensar, remexe águas paradas, trazendo à tona sabe Deus que desconcerto nosso. Com medo de ver quem — ou o que — somos, adia-se o defrontamento com nossa alma sem máscaras.
Mas, se a gente aprende a gostar um pouco de sossego, descobre — em si e no outro — regiões nem imaginadas, questões fascinantes e não necessariamente ruins.
Nunca esqueci a experiência de quando alguém botou a mão no meu ombro de criança e disse: — Fica quietinha, um momento só, escuta a chuva chegando.
E ela chegou: intensa e lenta, tornando tudo singularmente novo. A quietude pode ser como essa chuva: nela a gente se refaz para voltar mais inteiro ao convívio, às tantas fases, às tarefas, aos amores.
Então, por favor, me deem isso: um pouco de silêncio bom para que eu escute o vento nas folhas, a chuva nas lajes, e tudo o que fala muito além das palavras de todos os textos e da música de todos os sentimentos.
LUFT, Lya. Pensar é transgredir. Rio de Janeiro: Record, 2004. p. 41. Adaptado.
Embora no texto “Um pouco de silêncio” predomine o emprego da norma-padrão, em algumas agens se cultiva um registro semiformal.
O fragmento transposto corretamente para a norma-padrão é:
A) “Quem não corre com a manada (...)” (L. 15) / Quem não corre à manada
B) “notamos as frestas (...)” (L. 36) / notamos às frestas
C) “Chegamos em casa (...)” (L. 48) / Chegamos a casa
D) “(...) assistir a um programa:” (L. 49-50) / assistir à um programa
E) “trazendo à tona (...)” (L. 52) / trazendo há tona
Resolução:
Alternativa C.
Segundo a norma-padrão, o verbo “chegar” é regido pela preposição “a”. A preposição “em” ainda é considerada um desvio da norma-padrão nesse caso.
Questão 2
(Quadrix)
Ainda sobre o primeiro quadrinho, é possível notar que há um desvio em relação àquilo que a norma-padrão prescreve como “linguagem formal”. Caso o autor pretendesse seguir a norma-padrão de nossa gramática, escreveria:
A) “Conseguiste resolver a questão do aquecimento global?”.
B) “Conseguiu resolver o problema do aquecimento do globo terrestre?”.
C) “Conseguira resolver a questão do aquecimento do planeta?”.
D) “Sim, coloquei-lhe no freezer”.
E) “Sim, coloquei-o no freezer”.
Resolução:
Alternativa E.
O desvio à norma-padrão está na construção “coloquei ele”, que deveria ser substituída por “coloquei-o”.
Fontes
AZEREDO, José Carlos de. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo: Parábola, 2021.
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 38ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.
CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2020.
CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 7ª ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2016.
Fonte: Brasil Escola - /gramatica/norma-padrao.htm