Delmiro Augusto da Cruz Gouveia 4j6l9



Em pouco tempo recuperou-se financeiramente e viajou diversas vezes à Europa e aos Estados Unidos, onde conheceu a nova revolução industrial provocada pelo uso da energia elétrica. Quando ele conheceu a cachoeira de Paulo Afonso, teve a idéia de realizar ali um grande projeto e trouxe um grupo de engenheiros e investidores estadunidenses (1909-1910), para o projeto e a construção de uma grande hidrelétrica, que geraria energia suficiente para iluminar e abastecer o Recife e um grande um empreendimento agro-industrial nas terras em torno da cachoeira, em áreas da Bahia, Alagoas e Pernambuco a serem adquiridas pela empresa. Porém o governador de Pernambuco, Dantas Barreto, desconfiou da enormidade do projeto e ele foi forçado a reduzir as dimensões do projeto. Com o apoio dos irmão Rossbach, ele organizou a Cia. Agro-Fabril Mercantil e com turbinas e geradores alemães e suíços, instalou, num dos saltos da cachoeira de Paulo Afonso, o de Angiquinho, no lado alagoano do rio, uma usina hidrelétrica que gerava 1.500 HP, com uma voltagem de 3 KV. Pessoalmente, escolheu, na Inglaterra, máquinas da indústria Dobson & Barlow, para uma fábrica, a Cia Agro-Fabril, que iniciou (1914), a produção de linhas de coser, para rendas e bordados, fios e cordões de algodão cru em novelos, fios encerados e fitas gomadas para embrulhos. Essa indústria tinha características revolucionárias, no campo social, com uma vila operária, assistência médica, escola e cinema.

Este empreendimento, porém, ou a prejudicar o monopólio dos ingleses no setor, pois com o início da Primeira Guerra Mundial, seus produtos escassearam no mercado e a produção da Pedra, a marca Estrela, logo se tornou conhecida por sua qualidade e resistência e obteve aceitação imediata. Produzindo mais de 20 mil carretéis por dia as linhas Estrela ganharam o Brasil e entraram nos mercados da Argentina, Chile, Peru e outros países andinos. A inglesa Machine Cotton, produtora das Linhas Corrente, reagiu registrando (1916) no Chile e Argentina a marca Estrela, forçando o produto brasileiro a ser reembalado com seus rótulos trocados, e em seguida, tentou comprar o parque industrial de Pedra. Pressionado e irredutível, resistiu às propostas de compra da fábrica e acabou sendo assassinado misteriosamente em Vila de Pedra (1917), município que hoje tem seu nome, aos 54 anos de idade, no terraço da sua casa, um crime que jamais foi esclarecido.

Depois de sua morte, a Machine Cotton exerceu um dumping criminoso vendendo suas linhas pela metade do preço de produção, sob as vistas ivas do governo brasileiro, durante tempo suficiente para serem liquidadas as fábricas instaladas no país. Sob a complacência do governo Washington Luis, o complexo fabril de Pedra acabou sendo vendido (1929) em Paislay, Escócia, na sede da Machine Cotton, por 27 mil libras, seguindo-se sua destruição a marretadas por uma equipe de demolidores especialmente contratados (1930) e os destroços das máquinas inglesas ali instaladas, transportados em carretas puxadas por juntas de boi e jogados penhasco abaixo do São Francisco, cerca de 20 km de distância de Pedra. ISTO SIM! É UMA VERGONHA NA HISTÓRIA DO BRASIL! RETRATO DA SUBSERVIÊNCIA ETERNA A QUE SEREMOS SUBMETIDOS! (Veja mais em Delmiro Gouveia - Uma Fábrica no Sertão: http://eiderdoo.sites.uol.com.br/delmiro.htm).

Figura copiada de página da FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO


Fonte: Brasil Escola - /biografia/delmiro-augusto-da-cruz-gouveia.htm