Peroxissomos são organelas celulares envoltas por uma única membrana e são muito evidentes em células do fígado e dos rins de animais mamíferos. Seu interior é rico em enzimas que podem formar aglomerados conhecidos como nucleoides. Essa organela é especializada em promover reações oxidativas, e suas principais funções incluem metabolismo de ácidos graxos, desintoxicação celular e formação de plasmalogênios. 352w6u
Os glioxissomos constituem um tipo especializado de peroxissomo cuja função é converter ácidos graxos em açúcares, um processo fundamental nas sementes oleaginosas durante a germinação.
Quando os peroxissomos estão ausentes ou não funcionam corretamente no organismo, alguns distúrbios graves conhecidos como doenças peroxissomais podem ocorrer. A síndrome de Zellweger e a adrenoleucodistrofia ligada ao X são exemplos de condições associadas a defeitos nos peroxissomos.
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O peroxissomo é uma organela celular especializada em promover reações de oxidação pela utilização de oxigênio molecular (O2) e pela remoção de átomos de hidrogênio (H2) de substratos orgânicos (R) com o auxílio de enzimas. O nome “peroxissomo” deriva da sua função, uma vez que, na sequência dessas reações oxidativas, essa organela gera peróxido de hidrogênio (H2O2, popularmente conhecido como água oxigenada) como um intermediário no metabolismo oxidativo:
RH2 + O2 → R + H2O2
Essa organela está amplamente presente nas células eucarióticas, e uma de suas características distintivas é a abundância de enzimas que a compõem, as quais são empregadas nas reações oxidativas, como a urato oxidase, a D-aminoácido oxidase e a catalase.
A primeira descrição do peroxissomo ocorreu em 1954, quando o pesquisador J. Rodin o identificou. Posteriormente, uma caracterização bioquímica mais aprofundada foi realizada pelo citologista Christian de Duve.
O peroxissomo é uma organela arredondada, delimitada por uma única membrana, e com tamanho variando entre 0,1 e 1 micrômetro. Sua presença é mais notável em células do rim e do fígado de mamíferos, bem como em diversos tecidos vegetais. Internamente, o peroxissomo é rico em enzimas oxidativas, como a catalase e a urato oxidase. Em alguns casos, como nas células hepáticas, o acúmulo de enzimas dentro do peroxissomo resulta na formação de uma estrutura cristalina chamada nucleoide.
Diferentemente de organelas como as mitocôndrias, os peroxissomos não contêm DNA ou ribossomos. Em vez disso, suas proteínas são codificadas no núcleo da célula e, posteriormente, adquiridas por meio de importação seletiva do citosol ou através da membrana peroxissomal via retículo endoplasmático.
Sugere-se que os peroxissomos têm a capacidade de se autorreplicar, originando-se, assim, da divisão de peroxissomos já existentes. Durante esse processo de divisão, vesículas provenientes do retículo endoplasmático, conhecidas como vesículas pré-peroxissomais, fusionam-se a essas organelas, contribuindo para sua formação.
A diversidade de conjuntos enzimáticos encontrados nos peroxissomos é significativa, variando entre diferentes tipos celulares dentro de um mesmo organismo. Além disso, eles possuem a habilidade de adaptar-se a mudanças nas condições celulares. Por exemplo, em resposta à presença de metanol, é comum observar um aumento no tamanho e número de peroxissomos, ampliando sua capacidade de oxidar essa substância.
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Tanto o peroxissomo quanto a mitocôndria são considerados alguns dos principais sítios celulares de utilização de oxigênio. Essa informação ajuda a fundamentar uma das principais hipóteses aceitas sobre a origem evolutiva dos peroxissomos. Segundo alguns pesquisadores, os peroxissomos representam vestígios de uma organela ancestral que desempenhava todo o metabolismo celular relacionado ao oxigênio nas células eucarióticas ancestrais.
Esse metabolismo visava a reduzir a concentração intracelular de oxigênio devido ao aumento da concentração de oxigênio na atmosfera. O acúmulo de oxigênio no interior do organismo representava um risco, uma vez que ele era tóxico para a maioria das células.
Com o surgimento das mitocôndrias durante o curso da evolução, os peroxissomos tiveram sua utilidade reduzida, dado que as mitocôndrias proporcionavam a vantagem de conduzir reações semelhantes associadas à produção de ATP, fundamental para a obtenção de energia no organismo. Acredita-se que a preservação dos peroxissomos até os dias atuais ocorreu porque eles ainda desempenham funções importantes que não foram acopladas pelas mitocôndrias, como a oxidação de ácidos graxos de cadeia longa.
As principais funções dos peroxissomos estão relacionadas ao metabolismo de ácidos graxos, à desintoxicação celular e à formação de plasmalogênios.
H2O2 + RH2 → R + 2H2O
A catalase também é importante para converter o excesso de H2O2 presente na célula (e tóxico a ela) em H2O por meio da reação:
2H2O2 → 2H2O + O2
As doenças peroxissomais ocorrem quando os peroxissomos estão ausentes ou não funcionam corretamente no organismo. Alguns dos principais distúrbios são de origem hereditária, ou seja, os pais transmitem genes defeituosos aos filhos, resultando na manifestação dessas condições. Entre os exemplos de doenças peroxissomais, destacam-se:
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Os glioxissomos são um tipo especializado de peroxissomos que desempenha um papel importante nas sementes de oleaginosas (girassol, amendoim e algodão, por exemplo) durante o processo de germinação. Sua função é a conversão de ácidos graxos, que representam a principal forma de armazenamento de energia nessas sementes, em açúcares, essenciais para o crescimento inicial da planta. É importante notar que essa organela não está presente em animais, o que os torna incapazes de realizar tal conversão.
O processo de conversão de ácido graxos em açúcares é conduzido por meio de um conjunto de reações conhecido como ciclo do glioxilato, que dá nome ao glioxissomo. Nessa via metabólica, duas moléculas de acetil-CoA, originadas da quebra de ácidos graxos no interior do glioxissomo, se convertem em uma molécula de succinato, tendo como intermediário o glioxilato. O succinato, por sua vez, é convertido em oxalacetato e este é utilizado durante o processo de gliconeogênese (via metabólica utilizada para produzir glicose a partir de precursores não carboidratos) para gerar glicose.
A célula eucariótica é composta por diversas outras organelas, entre as quais: mitocôndria, retículo endoplasmático, complexo golgiense, lisossomo, plastídios e vacúolo. O peroxissomo mantém interações próximas com algumas delas:
1. O peróxido de hidrogênio (H2O2) é um subproduto das reações oxidativas que ocorrem no peroxissomo. Essa molécula é tóxica à célula, especialmente quando presente em alta concentração. Qual enzima é responsável por degradar o H2O2 no peroxissomo?
Resposta: A. A catalase é a enzima responsável por oxidar o H2O2 em excesso nos peroxissomos por meio da reação 2H2O2 → 2H2O + O2.
2. Uma função de destaque dos peroxissomos é a desintoxicação das células dos organismos, de forma a contribuir na eliminação de substâncias tóxicas absorvidas pela corrente sanguínea. Devido a isso, os peroxissomos são abundantes no:
Resposta: E. Os rins e o fígado apresentam uma alta concentração de peroxissomos, bem como suas enzimas, uma vez que são órgãos receptores de diversas substâncias tóxicas do organismo.
3. Nas células vegetais de sementes de oleaginosas, há um tipo de peroxissomo conhecido como glioxissomo. Ele é especializado em converter ácidos graxos armazenados em açúcares por meio de uma sequência de reações oxidativas. Qual o nome desse processo?
Resposta: B. O ciclo responsável pela transformação dos ácidos graxos em açúcares é denominado ciclo do glioxilato, que dá nome ao glioxissomo.
Créditos da imagem
[1] CNX OpenStax / Wikimedia Commons
Fontes
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Fonte: Brasil Escola - /biologia/peroxissomos.htm