O gás lacrimogêneo é um termo utilizado para os compostos químicos conhecidos como agentes lacrimejantes, que, entre diversos efeitos possíveis, podem causar a irritação dos olhos seguido de lacrimação. Por terem baixa toxicidade, são considerados armas não letais quando no combate e dispersão de manifestações. 3c2h5r
O gás lacrimogêneo, no entanto, pode apresentar sérios efeitos a diversas regiões do corpo, como olhos, nariz, vias áereas, pele, boca, entre outras. Apesar de não ser considerado letal, a sua utilização em ambientes fechados pode ocasionar a morte dos infectados, dada a altíssima concentração que os compostos químicos podem atingir. Seu uso em larga escala começou no século XX, popularizando-se na Primeira Guerra Mundial.
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O gás lacrimogêneo é um termo comumente utilizado para designar os chamados agentes lacrimejantes, capazes de causar irritação nos olhos, acompanhada por lacrimação, como também irritações na pele e vias respiratórias. São considerados debilitantes, pois diminuem a capacidade combativa do indivíduo, porém com efeito temporário.
Existem cerca de 15 compostos que geram esse efeito, e, como característica, apresentam baixa toxicidade. Por isso, quando utilizados como armas, não são considerados letais.
Dentre os agentes lacrimogêneos, destacam-se três:
A tabela|1| a seguir traz algumas informações físico-químicas desses agentes lacrimejantes:
Fórmula estrutural |
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Nome |
Cloroacetofenona (CN) |
Ortoclorobenzilmalononitrila (CS) |
Dibenzoxazepina (CR) |
Ponto de ebulição (°C) |
244-245 |
310-315 |
- |
Ponto de fusão (ºC) |
55 |
95 |
73 |
Forma/cor |
Cristal/incolor |
Cristal/branco acinzentado |
Cristal/amarelo pálido |
Solubilidade |
Água (insolúvel), etanol (solúvel) |
Água (parcialmente solúvel), solventes orgânicos (solúveis) |
Água (pouco solúvel), solventes orgânicos (solúveis) |
Dose letal* (mg.min/m³) |
11.000 |
25.000 |
100.000 |
*Dose letal é a Ct L50, para 50% das pessoas expostas (por inalação).
Os lacrimogêneos são utilizados como armas não letais, para dispersão de motins ou outros eventos de conflitos não armados, principalmente em ocorrências que envolvem a população interna do país, nas quais não seria plausível a ocorrência de mortes ou incapacitação definitiva da própria população.
Em geral, o gás lacrimogêneo é aplicado com granadas fumígenas, que, ao serem acionadas, provocam a queima do iniciador, que, por sua vez, promove a dispersão do agente químico. A formação do gás se dá por sublimação, e, por isso, o corpo da granada atinge uma alta temperatura.
No Brasil, por lei, somente o gás CS pode ser utilizado no controle de distúrbios sociais pela polícia.
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Apesar de os agentes lacrimejantes não serem considerados armas químicas de guerra, uma vez que foram desenvolvidos por terem uma boa margem de segurança, eles podem provocar ferimentos e até mesmo ser fatais se empregados em espaços sem ventilação adequada e por períodos prolongados.
Em um ambiente aberto, uma granada do gás CS gera uma nuvem de seis a nove metros de diâmetro, com concentração de 2000-5000 mg/m³ no centro dela (e menor nas extremidades). Contudo, em ambientes fechados, essa concentração pode se tornar muito maior.
Dados apontam que 31 mg/m³ de vapor de CN são intoleráveis aos humanos após três minutos de exposição. Já para o CS, estima-se que o vapor na concentração de 5 mg.min/m³ já é capaz de incapacitar 50% da população exposta. Entre os efeitos clínicos|2| mais comuns, estão os descritos a seguir.
Órgão/local afetado |
Efeitos clínicos gerados |
Olhos |
Queima, irritação, injeção conjuntival, dilaceração, blefarospasmo (espasmos no músculo orbicular das pálpebras) e fotofobia. |
Vias áreas |
Espirros, tosses, aperto no peito, irritação e secreção. |
Pele |
Queimação e eritema |
Nariz |
Rinorreia e queimação |
Trato gastroinstetinal |
Enjoo, náuseas e vômito |
Boca |
Queimação nas membranas mucosas e salivação |
É comum as pessoas pensarem que o vinagre (ácido etanóico ou acético) é recomendado para amenizar os efeitos instantâneos do gás lacrimogêneo. Contudo, especialistas afirmam que esse ácido (mesmo sendo quimicamente fraco) não neutraliza as queimaduras e pode até aumentar a irritação da pele, principalmente nos olhos.
A melhor forma de combate é o uso de óculos bem vedados e máscaras com filtro de carvão ativado para evitar a inalação do composto gasoso. De toda forma, pode-se utilizar uma solução aquosa de 5% a 10% de bicarbonato de sódio em água para decompor o agente lacrimejante CN. Para o CS, essa solução serve para remover os cristais do agente.
Em alguns protestos, também é comum ver pessoas utilizando leite de magnésia (solução aquosa de hidróxido de magnésio) para a contenção dos efeitos adversos dos agentes lacrimejantes.
De toda forma, caso se esteja exposto ao gás lacrimogêneo, não se deve coçar a região. O ideal é buscar ar fresco e correr com o rosto voltado para o vento. Quando a contaminação for excessiva, as roupas devem ser removidas e lavadas em água fria, de modo a diminuir a evaporação dos gases.
A descontaminação da pele pode ser feita com sabão neutro ou detergente e água em grandes quantidades. A utilização apenas de água, mesmo que abundante, não é tão eficiente, já que a solubilidade dos compostos não se dá por completo.
Os usuários de lentes de contato devem tomar cuidado, pois os gases podem ficar impregnados nelas. Pessoas com asma ou outras doenças crônicas respiratórias devem ter muita cautela, pois os efeitos podem ser exacerbados.
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O primeiro registro de que se tem da utilização de um agente lacrimejante data do final do século XV, mais precisamente em 1492. Na ocasião, povos indígenas da região do México queimavam pimenta em óleo para criação de uma fumaça lacrimogênea e tóxica.
Durante o Brasil Colônia, índios Tupinambás, da região Nordeste, descobriram que, ao se queimar pimenta, poderiam criar uma fumaça de caráter lacrimogêneo que poderia ser utilizada para retirar seus inimigos da posição defensiva.
No entanto, apenas no século XX que tais agentes começaram a ser usados em larga escala. O primeiro deles foi o bromoacetato de etila, aplicado em 1912 na cidade de Paris, capital sa. A popularização de fato dos gases lacrimogêneos ocorreu durante a Primeira Guerra Mundial, destacando-se os lacrimogêneos bromoacetato de etila, bromoacetona (BA), cianeto de bromobenzila (BBC), cloroacetona e brometo de xilila.
Notas
|1| Fontes: AMORIM, N. M. et al. Química e armas não letais: gás lacrimogêneo em foco. Química Nova Na Escola. v. 37, n. 2, p. 88-92, mai. 2015.
|2| Fonte: COLASSO, C. G.; TORRES, F. O. Aspectos químicos e toxicológicos dos agentes lacrimogêneos. Revista Militar de Ciência e Tecnologia. v. 36, n. 3, 2019.
Créditos da imagem
[1] Amir Ridhwan / Shutterstock
[2] PaulWong / Shutterstock
[3] Adirach Toumlamoon / Shutterstock
Por Stéfano Araújo Novais
Professor de Química
Fonte: Brasil Escola - /quimica/gas-lacrimogeneo.htm