Drogas sintéticas são substâncias produzidas em laboratório, sob ação direta do ser humano. O seu intuito é mimetizar ou intensificar os efeitos causados por drogas naturais. É possível destacar, dentro das drogas sintéticas, diversas categorias, como os canabinoides sintéticos, as anfetaminas estimulantes, os opioides sintéticos, as catinonas sintéticas, entre outros. 5iu3j
Drogas sintéticas podem levar à dependência química e seu uso pode produzir efeitos bastante adversos, sejam físicos, sejam psíquicos. Os viciados nessas substâncias precisam ser tratados por uma equipe multidisciplinar, por meio de metodologias específicas e baseadas em terapias para que eles possam ser reinseridos socialmente.
Leia também: Afinal, o que são as drogas?
Drogas sintéticas são substâncias que foram produzidas em laboratório, por ação direta do ser humano. Sua estrutura química pode ser tanto idêntica quanto diferente das drogas naturais, sendo que são produzidas para que mimetizem ou intensifiquem os efeitos causados por drogas naturais.
Os canabinoides sintéticos e as catinonas sintéticas são as principais classes de drogas sintéticas. Contudo, outras classes devem ser citadas, como é o caso dos benzodiazepínicos, os opioides sintéticos, as fenciclidinas e as anfetaminas estimulantes. Confira a seguir.
Canabinoides sintéticos são conhecidos como “maconha sintética” ou “marijuana sintética”, são pensados para simular os mesmos efeitos causados pelo principal metabólito da maconha, o THC (tetra-hidrocanabinol), nos usuários. Tais drogas são popularmente conhecidas como drogas K (K2, K4 e K9), Spice, Blaze e Black Mamba.
Catinonas sintéticas são estimulantes sintéticos produzidos com o intuito de afetar o sistema nervoso central, impactanto de forma análoga a drogas como a cocaína e as anfetaminas (como metanfetamina e ecstasy). Sua forma de istração pode ser por meio de inalação (pó), injeção intravenosa ou por via oral. Um nome muito comum para drogas desse grupo é “sais de banho” e, em geral, contêm na composição MDPV (3,4-metilenodioxipirovalerona), mefedrona e metilona.
Benzodiazepínicos são fármacos usados para diversas enfermidades, como para sedação e tratamento de sintomas da ansiedade, donde se destacam o Xanax, o Diazepam, o Clonazepam e o Etizolam.
Opioides sintéticos são anestésicos ou medicamentos voltados para o alívio da dor. Dessa classe, o mais conhecido de todos é o fentanil, além dos seus análogos oxicodona e metadona.
Fenciclidinas são anestésicos, e a cetamina é a mais famosa substância desse grupo.
Anfetaminas estimulantes são drogas clássicas no que diz respeito a substâncias psicoativas, como a anfetamina, a metanfetamina e o MDMA (3,4-metilenodioxianfetamina), popularmente conhecido como ecstasy.
Importante: Algumas outras drogas sintéticas comuns também são interessantes de citar, embora não estejam nesse grupo, como é o caso do LSD (ácido lisérgico) e o GHB (ácido gama-hidroxibutírico), utilizado no “Boa noite, Cinderela”.
Obviamente que o número de drogas sintéticas aumenta ano após ano no mundo, dada a velocidade e facilidade de produção. Contudo, uma análise da literatura de referência nos permite elencar algumas das principais questões físicas e psíquicas gerais que são observadas por usuários de drogas sintéticas.
É claro que, como drogas recreativas, os efeitos desejados pelos seus usuários também são observados. Usuários de canabinoides sintéticos, por exemplo, relatam efeitos semelhantes ao do uso da maconha, como analgesia, melhora no humor, diminuição da atividade motora e imprecisão.
Dentre as catinonas sintéticas mais famosas, é possível citar alguns efeitos relatados também. No caso da mefedrona, percebe-se que os efeitos psicoativos duram de uma a quatro horas, lembrando bastante a metanfetamina. Entre seus efeitos estão: euforia, melhora no humor, aumento do estado de alerta, aumento da concentração, empatia, comunicação, um maior “desejo de se mover”, uma maior apreciação de sons e músicas, além de um leve estímulo sexual. Contudo, quanto maior a dose de mefedrona, ou mais longo for o uso da substância, maior a probabilidade de surgimento de efeitos indesejáveis.
Já o MDPV tem efeitos análogos à cocaína, com duração esperada de três a quatro horas. A baixa duração dos efeitos faz com que usuários tomem a droga repetidamente, até para afastar as sensações ruins causadas pela diminuição dos efeitos. Usuários de MDPV são propensos a desenvolver comportamentos bizarros, como alucionações suicidas e a síndrome do delírio excitado, uma condição que traz comorbidades graves, como hipertermia, rabdomiólise (destruição das fibras musculares), falhas nos rins e, até mesmo, morte.
A metilona tem efeitos bem semelhantes ao ecstasy (MDMA). Em doses de 100 mg a 200 mg, a metilona pode causar euforia, aumento do estado de alerta, inquietação e grande sentimento de empatia. Sua utilização combinada com outras drogas, como a mefedrona, pode causar diversos efeitos adversos, entre eles a morte.
e também: Overdose — uma das principais consequências do uso excessivo de drogas
As drogas sintéticas têm origens diversas, não sendo possível organizar o seu surgimento em um bloco único. Mesmo assim, vale contar o surgimento de algumas dessas drogas sintéticas.
As drogas sintéticas têm como um dos principais efeitos o vício, ou seja, a dependência química. O tratamento de usuários que já se encontram nesse estado a por metodologias terapêuticas. Basicamente o dependente, inicialmente acolhido, tem o o suprimido à droga (a chamada desintoxicação). Essa etapa é de extrema importância, pois o usuário pode demonstrar abstinência e assim desenvolver sintomas como desconforto, tremores, ansiedade e hipertensão.
Por isso, é comum a istração de ansiolíticos e antidepressivos para aliviar a sensação de fissura. Outros medicamentos também podem ser usados nessa etapa, como os responsáveis por conter convulsões ou interferirem nos mecanismos cerebrais associados à euforia e ao prazer.
Em seguida, ocorre a identificação e o tratamento de possíveis doenças de base. O processo a ainda por reeducação, com o apoio de equipes que trabalhem na esfera psicossocial. Aqui o objetivo é fazer com que o paciente entenda a raíz do seu vício e evitar novos descontroles. Por exemplo, uma pessoa com fobia social pode fazer uso recreativo dessas substâncias para conseguir se inserir mais socialmente.
É importante notar que o paciente, nessa etapa, deve ter seus comportamentos ansiogênicos controlados, transformando o comportamento de modo geral e, assim, fazendo com que o usuário entenda as origens de seu vício e combata os seus gatilhos.
Por fim, gradativamente, o paciente vai sendo reinserido na sociedade, tendo contatos com amigos e familiares, além de atividades de rotina, como estudo e trabalho, mas com um trabalho contínuo para evitar recaídas.
Alguns países trabalham ainda com técnicas de redução de danos, que consistem na utilização de drogas em locais especializados. Nesses locais, limpos e com assistência médica disponível no caso de uma overdose, os usuários utilizam as substâncias de modo que o consumo não leve ao surgimento de novas doenças.
O panorama das drogas sintéticas no Brasil pode ser observado por meio da análise do relatório anual produzido pelo Instituto Nacional de Criminalística.
O Brasil já figura no mapa de drogas por ser uma região de trânsito estratégico para a cocaína, a qual sai de países andinos com destino à Europa e à Africa. Segundo o relatório do ano de 2022, foram feitos 1952 registros de drogas sintéticas no Brasil, um aumento de 197% em relação ao ano anterior.
Contudo, o relatório especifica que o aumento pode ser consequência de implementação de novos mecanismos que conseguiram tornar o sistema de criminalística mais eficiente. Isso possibilitou que o ano de 2022 fosse um ano de maior produção de laudos, o que não necessariamente refletiu a realidade do ano em si.
No relatório de 2022, os registros de drogas sintéticas corresponderam a 17% dos laudos forenses emitidos pela Polícia Federal. Ainda nesse documento, foi reportado que a Polícia Federal (PF) indicou que foram identificadas 61 diferentes substâncias psicoativas no universo das drogas sintéticas, sendo que nove substâncias foram identificadas pela primeira vez. O MDMA (ecstasy) foi, como em outros anos, a droga sintética mais reportada nos laudos emitidos pela PF, com 66% das detecções, seguida pelo MDA, com 11% das detecções.
A tabela a seguir traz algumas diferenças entre drogas naturais e drogas sintéticas.
Drogas naturais |
Drogas sintéticas |
Ocorrem na natureza, em geral em plantas (porém também podem ocorrer em fungos e animais). |
Produzidas artificialmente pelo ser humano, utilizando-se insumos químicos (embora alguns possam ser derivados de plantas). |
A concentração de alcaloides é, em geral, limitada por conta dos processos de extração e refinamento rudimentares. |
Os produtores conseguem produzir substâncias de elevado grau de pureza, por meio de melhorias nos processos de síntese e refinamento. |
Podem ser alteradas por seres humanos para originarem novos compostos de maior potência (drogas semi-sintéticas). |
A potência pode variar, mas, em geral, é bem maior se comparada a uma droga natural. |
A descoberta de novos compostos ocorre na natureza e de forma lenta. |
Novos compostos são rapidamente descobertos em laboratórios ou por meio de simulações em computadores. |
Fontes
ALVES, A. O.; SPANIOL, B.; LINDEN, R. Canabinoides sintéticos: drogas de abuso emergentes. Revista de Psiquiatria Clínica. v. 39, n. 4, p. 142-148, 2012.
ARAÚJO, F. F. C. Drogas: Uma análise história, social e contextual de políticas proibicionistas e de seus impactos sociais. 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Direito) – Faculdade Vale do Cricaré, São Mateus, Espírito Santo, Brasil, 2018.
BEZERRA, C. Melhores tratamentos para parar de usar drogas. Tua Saúde. set. 2023. Disponível em: https://www.tuasaude.com/tratamento-para-parar-de-usar-drogas/.
CENTRO DE ESTUDO SOBRE DROGAS E DESENVOLVIMENTO SOCIAL COMUNITÁRIO – CDESC. Canabinoides Sintéticos – Estratégias Globais de Prevenção e Ação. Brasília: Ministério da Justiça e Segurança Pública, 2024.
HOSPITAL SANTA MÔNICA. Tratamento contra drogas: como ele funciona? Hospital Santa Mônica. 28 mar. 2019. Disponível em: https://hospitalsantamonica.com.br/tratamento-contra-drogas-como-ele-funciona/.
INSTITUTO NACIONAL DE CRIMINALÍSTICA – DITEC. Drogas Sintéticas – Relatório 2022. Brasília: Ministério da Justiça e Segurança Pública, 2022.
KARILA, K.; MEGARBANE, B.; COTTENCIN, O.; LEJOYEUX, M. Synthetic cathinones: a new public health problem. Current Neuropharmacology. v. 13, n. 1, p. 12-20, jan. 2015.
SACCO, L. N.; FINKLEA, K. Synthetic Drugs: Overview and Issues for Congress. Congress Research Service. ago. 2014. Disponível em: https://.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/8e/R42066_Synthetic_Drugs_Overview_and_Issues_for_Congress_%28IA_R42066SyntheticDrugsOverviewandIssuesforCongress-crs%29.pdf.
SECRETARIA DE SAÚDE DO DISTRITO FEDERAL. Saúde oferece tratamento para o vício em droga sintética. Agência Saúde – DF. 06 nov. 2013. Disponível em: https://saude.df.gov.br/w/saude-oferece-tratamento-para-o-vicio-em-droga-sintetica.
UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIMES – UNODC. The synthetic drug phenomenon. In: World Drug Report 2023. Cap. 1. Viena, Áustria: Nações Unidas, 2023.
Fonte: Brasil Escola - /drogas/drogas-sinteticas.htm