Candomblé

O candomblé é uma religião de matriz africana que busca a conexão com divindades chamadas orixás, voduns e inquices.

O candomblé é uma religião de matriz africana que busca conectar seus praticantes com divindades chamadas orixás, voduns e inquices, representando forças naturais e aspectos da vida humana, promovendo harmonia entre os mundos físico e espiritual. Suas crenças incluem a continuidade da vida após a morte, a reencarnação e o conceito de "axé", uma energia vital cultivada nos rituais e oferendas. Esses rituais, realizados em terreiros e liderados por sacerdotes, incluem danças, oferendas e cantos que evocam os orixás, celebram eventos importantes e marcam a iniciação de novos membros.

Cada orixá possui características específicas, como cores, danças e alimentos, simbolizando poderes e aspectos naturais e humanos, enquanto outros espíritos, como os eguns, também integram a cosmologia da religião. As nações do candomblé refletem a diversidade africana, sendo as principais Ketu, Jeje e Angola, cada uma com rituais e práticas próprias, evidenciando a riqueza cultural da religião.

Leia também: Hinduísmo — uma das religiões mais antigas do mundo e uma das principais religiões da atualidade

Resumo sobre o candomblé

  • Candomblé é uma religião de matriz africana que busca a conexão com divindades chamadas orixás, voduns e inquices, representando forças naturais e elementos da vida humana, promovendo harmonia entre os mundos físico e espiritual.
  • As crenças do candomblé incluem a presença dos orixás em todas as forças naturais, a continuidade da vida após a morte e a reencarnação, além do conceito de "axé", uma energia vital que é cultivada nos rituais e oferendas.
  • Os rituais do candomblé, realizados em terreiros e liderados por sacerdotes, incluem danças, oferendas e cantos para evocar a presença dos orixás, celebrar eventos importantes e realizar iniciações para novos membros da religião.
  • Os orixás representam elementos naturais e aspectos humanos; cada um possui características específicas, como cores, danças e alimentos, simbolizando poderes e funções, além de outros espíritos, como os eguns.
  • As nações do candomblé refletem a diversidade africana, com três principais divisões — Ketu, Jeje e Angola —, cada uma com línguas, práticas e rituais próprios, destacando a riqueza cultural que compõe a religião.
  • O candomblé tem origem nas tradições da África Ocidental, trazidas pelos escravizados e adaptadas no Brasil, onde a religião enfrentou perseguições e preconceito, consolidando-se como uma religião própria e marcada pela resistência cultural.
  • Embora candomblé e umbanda compartilhem raízes africanas, o candomblé preserva tradições africanas puras, enquanto a umbanda é um sincretismo que inclui influências católicas, indígenas e espíritas, com diferentes divindades e práticas.
  • O Dia Nacional das Tradições de Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé é celebrado no dia 21 de março.

O que é candomblé?

O candomblé é uma religião de matriz africana, marcada por uma complexa estrutura de rituais, crenças e práticas, que se mantém viva principalmente no Brasil, embora também seja praticada em outros países. Fundamentado em uma cosmologia e filosofia próprias, o candomblé busca compreender o universo e a existência humana por meio da conexão com entidades espirituais chamadas orixás, voduns e inquices, que representam diferentes aspectos da natureza e das forças vitais.

O termo "candomblé" originalmente referia-se a celebrações de dança e música, mas com o tempo ou a ser sinônimo da própria religião. A prática religiosa inclui oferendas, danças e cantos que visam manter o equilíbrio entre os mundos físico e espiritual, buscando harmonia, proteção e orientação espiritual.

Crenças do candomblé

No candomblé, acredita-se que tudo no universo está interligado, sendo que cada elemento natural — água, fogo, ar, terra, plantas, animais e seres humanos — está associado a uma força espiritual ou orixá. Os praticantes acreditam que essas divindades se manifestam para oferecer proteção, cura e equilíbrio aos indivíduos e à comunidade.

Além disso, o candomblé é caracterizado pela crença na reencarnação e, portanto, na continuidade da vida após a morte, onde o espírito retorna ao plano espiritual e pode eventualmente reencarnar. Outra crença fundamental é o conceito de "axé", uma energia vital que é cultivada através de rituais, oferendas e a conexão com os orixás.

A tradição oral é a principal forma de transmissão do conhecimento religioso, sendo que os mitos e histórias dos orixás explicam suas origens, poderes e personalidades, orientando a conduta dos fiéis.

Rituais do candomblé

Dança em um ritual do candomblé.

Os rituais no candomblé são formas de conexão com os orixás e servem para celebrar, honrar e obter proteção das divindades. Entre os principais rituais estão as festas para os orixás, que envolvem cantos, danças e toques de tambores. Essas cerimônias costumam ocorrer em terreiros, lugares sagrados onde os rituais são realizados, e são lideradas por sacerdotes e sacerdotisas, conhecidos como pais e mães de santo.

 Outro ritual importante é a oferenda, na qual são oferecidos alimentos, bebidas e outros elementos aos orixás em troca de proteção ou favores. Além disso, há ritos de iniciação, que marcam o vínculo de um novo membro com um orixá específico, e o ritual do padê, realizado em homenagem a Exu, orixá mensageiro e guardião dos caminhos.

As danças e os trajes são partes fundamentais dos rituais, pois cada orixá tem um ritmo e uma coreografia específica que evocam suas características e simbolizam a sua presença.

Orixás e entidades do candomblé

Estátua de Iemanjá, uma das orixás mais conhecidas do candomblé.

Os orixás são divindades que representam forças da natureza e aspectos da vida humana. Cada orixá tem sua própria personalidade, símbolos, cores, comidas preferidas e rituais específicos. Alguns dos orixás mais conhecidos são:

  • Oxalá: o orixá da criação e da paz, associado ao branco e às pombas.
  • Iemanjá: a rainha do mar, associada às águas salgadas e à maternidade.
  • Xangô: o orixá da justiça e dos raios, associado ao trovão e às pedras.
  • Ogum: o orixá da guerra e do ferro, associado às armas e às batalhas.
  • Oxum: a deusa do amor e da fertilidade, associada às águas doces e ao ouro.

Além dos orixás, o candomblé também cultua outras entidades, como os ancestrais e espíritos conhecidos como eguns, e possui categorias de espíritos que representam diferentes energias e arquétipos humanos, que também se manifestam nas cerimônias.

Nações do candomblé

As "nações" do candomblé são divisões dentro da religião que refletem as diferentes culturas e etnias africanas trazidas ao Brasil durante o período da escravidão. Cada nação possui suas próprias tradições, línguas e rituais específicos, embora todas compartilhem a veneração aos orixás e a estrutura básica de culto. As principais nações são:

  •  Ketu: originária do grupo iorubá, é uma das nações mais difundidas no Brasil. Seus rituais são caracterizados pelo uso de cânticos em iorubá e a veneração dos orixás.
  • Jeje: baseada nas tradições do povo ewe-fon, do atual Benim. Seus rituais são conhecidos pela invocação dos voduns, que são entidades semelhantes aos orixás.
  • Angola: baseada nas tradições dos povos bantu, principalmente de Angola e Congo. Seus rituais utilizam cânticos em línguas bantu e veneram os inkices, que são equivalentes aos orixás.

Origem e história do candomblé

Atualmente, o candomblé é uma das principais religiões do Brasil.

O candomblé tem suas origens na África Ocidental, especialmente nas regiões correspondentes à Nigéria, Benim, e Angola, de onde vieram muitos dos escravizados levados ao Brasil. Durante o período da escravidão, os africanos mantiveram suas tradições religiosas, apesar da opressão e da tentativa de conversão ao catolicismo.

No Brasil, os africanos de diferentes etnias reuniram-se e adaptaram seus cultos para manter vivas suas práticas, dando origem ao que hoje se conhece como candomblé. No século XIX, a prática do candomblé ganhou força na Bahia, onde os primeiros terreiros foram fundados, como o Ilê Axé Iyá Nassô Oká, considerado um dos mais antigos.

A religião enfrentou perseguições ao longo de sua história e foi associada a práticas "primitivas" e "fetichistas" por pesquisadores do século XIX, como Nina Rodrigues, que, apesar de interessado em estudar a cultura afro-brasileira, refletia os preconceitos de seu tempo. Somente ao longo do século XX, com pesquisadores como Pierre Verger e Roger Bastide, o candomblé começou a ser visto com mais respeito e a receber um tratamento acadêmico mais sensível.

Leia também: Intolerância religiosa — forma de preconceito por conta da religião.

Diferenças entre candomblé e umbanda

Embora o candomblé e a umbanda compartilhem raízes africanas, são religiões distintas com práticas e doutrinas próprias. O candomblé tem uma estrutura mais rígida e é diretamente baseado nas tradições africanas, sem incorporar elementos de outras religiões. A umbanda, por outro lado, é um sincretismo que mistura influências africanas, indígenas, espíritas e católicas, sendo mais flexível em sua prática e em sua adaptação ao contexto brasileiro.

Outra diferença é a forma de contato com as entidades espirituais: enquanto no candomblé o culto é direcionado principalmente aos orixás, na umbanda há uma diversidade de espíritos, incluindo guias como caboclos, pretos-velhos e crianças, que se manifestam nos médiuns. Na umbanda, a incorporação de elementos do espiritismo kardecista também influencia a visão sobre a reencarnação e a evolução espiritual, enquanto o candomblé se mantém mais fiel às crenças africanas.

Dia Nacional do Candomblé

Em 2023, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei 14.519/2023, que criou o Dia Nacional das Tradições de Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé, celebrado no dia 21 de março.

Curiosidades sobre o candomblé

O candomblé tem características únicas que despertam curiosidade e fascínio. Por exemplo, cada orixá possui um dia da semana específico em que é celebrado, com cores e comidas associadas a ele. Exu, por exemplo, é homenageado às segundas-feiras, e suas cores são o vermelho e o preto.

Outro aspecto interessante é o uso dos búzios para a leitura do oráculo, através do qual se busca a orientação dos orixás. No candomblé, o transe é uma prática importante: os filhos de santo entram em transe durante os rituais e “recebem” os orixás, sendo guiados pelos movimentos e sons que expressam a presença divina.

Crédito de imagem

[1] Clara Angeleas / Ministério da Cultura / Wikimedia Commons (reprodução)

Fontes

LARA, Larissa Michelle. As danças no candomblé: corpo, rito e educação. Maringá: Eduem, 2008.

PARIZI, Vicente Galvão. O livro dos Orixás: África e Brasil. Porto Alegre: Editora Fi, 2020. 268 p.

BASTIDE, Roger. O candomblé da Bahia (Rito Nagô). Tradução de Maria Isaura Pereira de Queiroz. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1961.  (Coleção Brasiliana, v. 313).

 

Evento de reconhecimento do candomblé em Brasília, 2018, religião afro-brasileira que está presente no país desde o Brasil Colônia.
O candombe é uma religião afro-brasileira que está presente no país desde o Brasil Colônia. [1]
Crédito da Imagem: Commons
Deseja fazer uma citação?
CAMPOS, Tiago Soares. "Candomblé"; Brasil Escola. Disponível em: /religiao/candomble.htm. o em 23 de maio de 2025.