Crime e castigo é um romance do escritor russo Fiódor Dostoiévski. A obra faz parte do realismo e apresenta análise psicológica. A narrativa policial conta a história de Raskólnikov, um ex-estudante endividado que vive em São Petersburgo. Em certa ocasião, ele comete um duplo assassinato.
A extensa narrativa possui longos diálogos e monólogo interior, de forma que a ação é mínima. A partir do fluxo de consciência, o narrador apresenta o universo interior desse assassino. Por fim, Raskólnikov confessa seu crime e tem seu castigo ao ser condenado à prisão na Sibéria.
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Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre Crime e Castigo
- 2 - Análise da obra Crime e castigo
- 3 - Características da obra Crime e castigo
- 4 - Contexto histórico da obra Crime e castigo
- 5 - Qual a mensagem principal de Crime e castigo?
- 6 - Dostoiévski, autor de Crime e castigo
Resumo sobre Crime e Castigo
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O ex-estudante Raskólnikov, endividado, assassina sua credora e a irmã dela.
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Após as matar com um machado, rouba alguns pertences.
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O protagonista fica impune por um tempo; em seu benefício, um tal Nikolai dá falso testemunho e assume o crime.
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Raskólnikov tem uma mãe e uma irmã, a qual está noiva de Piotr Pietróvitch Lújin.
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A reputação da irmã foi manchada por seu ex-patrão, o fazendeiro Arkadi Ivánovitch Svidrigáilov.
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Raskólnikov é contra o noivado da irmã, e o casamento acaba não ocorrendo.
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Svidrigáilov, ao que tudo indica, envenenou a própria esposa.
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Raskólnikov tem um envolvimento amoroso com a filha de Marmieládov, o qual conheceu em uma taberna.
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O protagonista confessa seu crime e é condenado à prisão na Sibéria.
Análise da obra Crime e castigo
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Personagens de Crime e castigo
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Aliena Ivánovna: credora ou agiota.
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Amália Ivánovna: senhoria de Marmieládova.
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Andriêi Semeónovitch: amigo de Piotr Pietróvitch Lújin.
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Arkadi Ivánovitch Svidrigáilov: fazendeiro e antigo patrão da irmã do protagonista.
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Avdótia Románovna (Dúnia): irmã do protagonista.
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Catierina Ivánovna: esposa de Marmieládov.
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Chelopáiev: comerciante.
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Dmitri Prokófitch: amigo da família do protagonista.
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Iliá Pietróvitch: auxiliar do inspetor de polícia.
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Kokh: um vigarista.
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Lisavieta Ivánovna: irmã de Aliena.
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Marfa Pietróvna: esposa de Svidrigáilov.
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Marmieládov: funcionário público, conhecido do protagonista.
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Nastácia: criada e cozinheira da senhoria de Raskólnikov.
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Nikodim Fomitch: um oficial.
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Nikolai: assumiu assassinatos cometidos pelo protagonista.
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Piotr Pietróvitch Lújin: noivo da irmã do protagonista.
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Porfiri Pietróvitch: juiz de instrução.
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Praskóvia Pávlona: senhoria de Raskólnikov.
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Pulkhéria Raskólnikova: mãe de Raskólnikov.
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Raskólnikov: protagonista.
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Razumíkhin: colega de Raskólnikov.
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Sônia Semeónovna: filha do primeiro casamento de Marmieládova.
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Zamiótov: escrivão.
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Zóssimov: amigo do protagonista.
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Enredo de Crime e castigo
Na primeira parte, o jovem Raskólnikov vai penhorar um relógio com Aliena Ivánovna, a quem já deve um empréstimo. O jovem sai dali para uma taberna, onde conhece Marmieládov, com quem tem uma longa conversa. Por fim, bêbado, Marmieládov pede que o rapaz o leve para casa, no edifício Kozel.
Ao chegar em casa, a esposa de Marmieládov fica indignada, porque o marido está bêbado e sem dinheiro, enquanto seus filhos estão com fome. Raskólnikov vai embora e acorda tarde no dia seguinte. Nastácia, a criada da senhoria do rapaz lhe diz que esta quer dar queixa dele, pois ele, sem trabalho, não paga o aluguel nem vai embora.
Raskólnikov recebe uma carta da mãe. Após ler a carta, sai para a rua. Em um bulevar, encontra uma jovem bêbada. Avista um senhor que, “ao que tudo indicava”, “estava com muita vontade de chegar-se à menina com certos objetivos”. Raskólnikov fica furioso, mas um policial evita a briga. No caminho de casa, depois de tomar um pouco de vodca, “entrou em uma moita, caiu na grama e no mesmo instante adormeceu”.
E sonha com sua infância. No sonho, um bando de bêbados mata uma égua a pancadas. Por fim, “acordou banhado de suor, com os cabelos molhados de suor, arfando, e levanta-se aterrorizado”. Na noite do dia seguinte, procura Aliena novamente, e lhe diz que “trouxe o penhor [uma cigarreira de prata] que havia prometido há poucos dias...”. Porém, Aliena,
voltando-se para a janela, no sentido da claridade (todas as janelas estavam fechadas, apesar do abafamento), [...] o deixou inteiramente por alguns segundos e lhe deu as costas. Ele desabotoou o sobretudo e soltou o machado do lenço, mas ainda não o tirou por inteiro, ficando apenas a segurá-lo com a mão direita por cima da roupa. Os braços estavam terrivelmente fracos; ele mesmo os sentia a cada instante cada vez mais entorpecidos e duros. Temia soltar e deixar cair o machado... num repente foi como se a cabeça começasse a rodar.
Assim, ele lhe dá uma machadada na cabeça. Após o assassinato, ele perpetra o roubo: “A bolsa estava abarrotada; Raskólnikov a enfiou no bolso sem examiná-la, atirou a cruz no peito da velha e, agarrando desta feita o machado, lançou-se de volta ao quarto”. Debaixo da cama, havia um baú, com “um relógio de ouro”, “objetos de ouro [...], pulseiras, correntes, brincos, alfinetes etc.”.
Porém, a irmã da morta chega, e Raskólnikov também a mata, com o machado. Já na segunda parte da obra, após cometer os assassinatos, ele volta para casa e dorme, tomado de febre. Após receber uma intimação, ele vai à delegacia. Lá descobre que é réu em uma “ação de cobrança de dinheiro”.
Volta para o seu quarto para pegar os objetos roubados, com a intenção de “lançar tudo no canal, jogar as provas na água, e assunto encerrado”. Ex-estudante, Raskólnikov vai até o apartamento de seu colega de universidade Razumíkhin para pedir ajuda, mas desiste: “[...] agora eu vejo que não preciso de nada, estás ouvindo, de absolutamente nada... dos obséquios e da colaboração de ninguém...”.
Na terceira parte, o protagonista, doente, volta a si depois de quatro dias. E recebe a notícia de que a mãe lhe enviou trinta e cinco rublos. Um tal Piotr Pietróvitch Lújin, noivo de sua irmã, diz que a mãe e a irmã do protagonista estão chegando à cidade. Raskólnikov acaba brigando com ele.
Raskólnikov entra em uma taberna e, enquanto lê as notícias, um tal Zamiótov se senta ao seu lado, e começam a conversar. Ao sair, encontra Razumíkhin, que o critica por ter deixado o leito. Em seguida, Raskólnikov vai até o apartamento onde ocorreu o assassinato com intenção de o alugar e morar ali.
Marmieládov, bêbado, é atropelado na rua, e Raskólnikov o reconhece, manda chamarem o médico, diz que tem dinheiro para pagar. Marmieládov é levado para casa, no edifício Kosel, mas morre, e Raskólnikov dá todo o dinheiro que tem para a viúva. Na terceira parte da obra, a mãe e a irmã de Raskólnikov estão de visita, mas ele as manda embora.
Ele é contra o casamento da irmã, pede para ela terminar o relacionamento. Ele acha que a irmã está se casando em sacrifício, para o ajudar. Raskólnikov está doente e sendo cuidado por Nastácia, Zóssimov e Razumíkhin. Ele já está melhor quando Sônia, filha de Marmieládova, vai lhe pedir para ir à missa de corpo presente do seu pai.
Curado, alguém vai procurar por ele e, perto do seu prédio, o chama de “assassino”, depois se vai. Então,
Raskólnikov voltou a os lentos, enfraquecido, com os joelhos trêmulos e parecendo terrivelmente gelado, e subiu para o seu cubículo. Tirou e pôs o boné na mesa e ficou uns dez minutos ao lado dela, imóvel. Em seguida deitou-se sem forças no sofá e estirou-se num gesto mórbido, com um gemido fraco; tinha os olhos fechados. Assim permaneceu cerca de meia hora.
Cai no sono e, quando acorda, está ali um homem chamado Arkadi Ivánovitch Svidrigáilov. Assim, na quarta parte, esse homem informa que Marfa Pietróvna, falecida, deixou três mil rublos para a irmã do protagonista. Ao sair, ele esbarra com Razumíkhin, o qual, ao perguntar quem era, ouve de Raskólnikov:
— Era Svidrigáilov, aquele fazendeiro em cuja casa minha irmã foi ofendida quando trabalhava de governanta. Por causa do assédio sexual dele ela deixou a casa, posta para fora pela mulher dele, Marfa Pietróvna. Depois essa Marfa Pietróvna pediu perdão a Dúnia, e agora morreu de repente. Era sobre ela que conversávamos há pouco. Não sei por quê, mas estou com muito medo desse homem. Ele veio imediatamente após o enterro da mulher. É um homem muito estranho e decidiu-se por alguma coisa... É como se soubesse alguma coisa... Precisamos proteger Dúnia dele... eis o que eu queria dizer, estás ouvindo?
O casamento da irmã não acontece, há um rompimento. Raskólnikov vai até o prédio de Sônia para fazer uma visita. Ele lhe diz que abandonou seus familiares (mãe e irmã) e acrescenta: “Agora eu só tenho a ti [...]. Vamos seguir juntos... Eu vim te procurar. Nós dois juntos somos malditos, então vamos seguir juntos!”.
Um tal de Nikolai, “um fanático desalentado”, confessa ter cometido o assassinato das duas irmãs. O homem que chamou o protagonista de assassino então vai pedir desculpa a Raskólnikov. Na quinta parte, Piotr Pietróvitch vai conversar com Sônia sobre o estado emocional de sua madrasta e lhes oferece ajuda financeira. Depois, ele vai até a casa de Sônia e lhe diz:
— Logo após a sua visita, sumiu da minha mesa, no quarto do meu amigo Andriêi Semeónovitch Liebeziátnikov, uma nota do banco estatal no valor de cem rublos. Se a senhora souber, seja por que meio for, e nos indicar onde ela se encontra neste momento, asseguro-lhe com palavra de honra, e tomo todos aqui por testemunhas, que só isso encerra o caso. Do contrário serei forçado a recorrer a medidas muito sérias, e então... a culpa será só sua!
Liebeziátnikov, vendo a cena, critica a atitude do amigo e o chama de “caluniador”. Sabendo do ocorrido, Raskólnikov conclui que Piotr Pietróvitch fez tais acusações porque sabe do apreço do protagonista por Sônia, e queria se vingar de Raskólnikov por ter influenciado a irmã a romper o noivado.
Para completar, a senhoria expulsa Catierina Ivánovna, que, tudo indica, está louca. Nesse ínterim, Raskólnikov confessa seu crime a Sônia. Na sexta parte, Porfiri Pietróvitch descobre quem é o assassino, mas Raskólnikov nega. Além disso, o protagonista desconfia de que o fazendeiro Svidrigáilov ainda está interessado em sua irmã.
No entanto, Avdótia Románovna tem certeza que Svidrigáilov envenenou a esposa. Assim, “ela tirou do bolso um revólver, armou o cão e baixou a mão com o revólver sobre a mesinha. Svidrigáilov deu um salto”. No entanto, não o mata. Svidrigáilov acaba dando um tiro na própria cabeça.
Na delegacia, Raskólnikov revela a Iliá Pietróvitch: “Fui eu que matei com um machado a velha viúva do funcionário e sua irmã Lisavieta e a roubei”. Assim, “Iliá Pietróvitch ficou boquiaberto. De todos os cantos correu gente” e “Raskólnikov repetiu o seu testemunho...”.
Por fim, no epílogo, o protagonista está em uma prisão na Sibéria:
Há muito tempo ele andava doente; mas não eram os horrores da vida de galé, nem o trabalho, nem a comida, nem a cabeça raspada, nem o uniforme de retalhos que o quebrava: oh! que lhe importavam todos esses sofrimentos e torturas! Ao contrário, ele estava até contente com o trabalho: exaurido fisicamente pelo trabalho, ao menos conseguia algumas horas de sono tranquilo. E que significava a comida para ele — essas sopas de repolho sem nada e com baratas? Frequentemente nem isso tinha antes, quando era estudante. A roupa agasalhava e estava adaptada ao seu modo de vida. Os grilhões ele nem chegava a sentir em seu corpo. Iria envergonhar-se da cabeça raspada e da meia jaqueta? Diante de quem? De Sônia? Sônia o temia, e era dela que ele iria sentir vergonha?
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Tempo de Crime e castigo
O romance possui tempo cronológico e a ação transcorre no século XIX.
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Espaço de Crime e castigo
A ação se a em São Petersburgo.
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Narrador de Crime e castigo
A obra conta com narrador onisciente, conhecedor do interior dos personagens e dos detalhes da ação.
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Características da obra Crime e castigo
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Estrutura: O romance Crime e castigo possui seis partes. A primeira e a segunda partes têm sete capítulos cada uma. A terceira e quarta, seis capítulos cada uma. A quinta, cinco capítulos. E a sexta, oito capítulos. Por fim, há também um epílogo dividido em dois capítulos.
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Estilo literário: As obras de Dostoiévski fazem parte do realismo. Portanto, são marcadas pela objetividade, crítica social e falta de idealizações. No entanto, o autor mostra tendência conservadora e nacionalista. Predominam em seus textos o descritivismo e a reflexão filosófica. Além disso, suas obras também apresentam fluxo de consciência e temáticas como crime, loucura, injustiça e humilhação.
Contexto histórico da obra Crime e castigo
Crime e castigo foi publicado, pela primeira vez, em 1866. Tudo indica que o tempo da narrativa faz referência à contemporaneidade do autor. Alexandre II (1818-1881) foi o czar da Rússia entre 1855 e 1881. Durante seu reinado, teve lugar a Reforma Emancipadora, em 1861, que pôs fim ao servilismo dos camponeses.
No entanto, com a emancipação, os camponeses pobres ficaram sem terras, em benefício dos nobres. Portanto, a história do romance se a em um contexto de mudanças sociais, econômicas e políticas. Porém, as angústias existenciais do protagonista apresentam caráter universal, ou seja, ultraam um momento histórico.
Qual a mensagem principal de Crime e castigo?
O verdadeiro castigo para um crime é a culpa.
Dostoiévski, autor de Crime e castigo

Fiódor Dostoiévski nasceu em Moscou, na Rússia, no dia 11 de novembro de 1821. Era filho de um severo médico e, desde criança, teve contato com pessoas pobres e doentes. O pai queria que ele estudasse engenharia, mas Dostoiévski, depois de um tempo no exército, optou pela literatura. Assim, teve uma carreira bem-sucedida como escritor.
Envolvido em questões políticas, foi preso e condenado à morte. Mas depois sua pena foi trocada por trabalhos forçados na Sibéria, cumprida entre 1849 e 1854, quando ou a atuar como soldado, partindo para São Petersburgo, em 1859, para se dedicar à escrita. O autor morreu em 9 de fevereiro de 1881, em São Petersburgo.
Créditos da imagem
[1] Editora Todavia (reprodução)
Fontes:
ABAURRE, Maria Luiza M.; PONTARA, Marcela. Literatura: tempos, leitores e leituras. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2021.
DOSTOIÉVSKI, Fiódor. Vida e obra de Fiódor Mikháilovitch Dostoiévski. In: DOSTOIÉVSKI, Fiódor. Obras completas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2004.
DOSTOEVSKY MUSEUM. Biography. Disponível em: http://eng.md.spb.ru/dostoevskij/biografiya/.
DOSTOIÉVSKI, Fiódor. Crime e castigo. Tradução de Paulo Bezerra. 6. ed. São Paulo: Editora 34, 2009.
LEÃO, Igor Zanoni Constant Carneiro. Paralelos entre a Revolução Russa e a Revolução Chinesa: camponeses, teóricos e revolucionários. História, São Paulo, v. 40, 2021.
NUTO, João Vianney Cavalcanti. Dostoiévski e Bakhtin: a filosofia da composição e a composição da filosofia. Bakhtiniana, São Paulo, v. 6, n. 1, p. 129-142, ago./ dez. 2011.
OLIVO, Luis Carlos Cancellier de (org.). Dostoiévski e a filosofia do direito: o discurso jurídico dos irmãos Karamázov. Florianópolis: Editora UFSC/ Fundação Boiteux, 2012.
SCHNAIDERMAN, Boris. Crítica ideológica e Dostoiévski. TRANS/ FORM/ AÇÃO, Assis, v. 1, p. 105-116, 1974.
![Capa do livro Crime e castigo, de Dostoiévski, publicado pela editora Todavia.[1] Capa do livro Crime e castigo, de Dostoiévski, publicado pela editora Todavia.[1]](https://image.staticox.com/?url=https%3A%2F%2Fs2.static.brasilescola-uol-br.diariodoriogrande.com%2Fbe%2F2025%2F05%2Fcapa-do-livro-crime-e-castigo-de-dostoievski-publicado-pela-editora-todavia1.jpg)