Possível solução para reduzir as emissões de CO2

Uma possível solução para reduzir as emissões de CO2 seria armazená-lo em salmoura subterrânea, gerando também energia geotérmica e metano como combustíveis.

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O uso de combustíveis fósseis, como os derivados do petróleo, o carvão e o gás natural, para gerar energia têm produzido toneladas de gás carbônico (dióxido de carbono – CO2) que estão sendo lançadas na atmosfera. Por essa razão, o CO2 tornou-se o grande vilão da intensificação do efeito estufa, que leva ao aquecimento global do planeta, com consequências que podem ser devastadoras.

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Assim, surge uma necessidade urgente de se reduzir as emissões de CO2 para a atmosfera. Uma das alternativas seria a captação do CO2 liberado por indústrias e usinas de eletricidade e enterrá-lo no subsolo, processo conhecido como sequestro. No entanto, além de ser um processo muito caro, existe o problema de que, com o tempo, esse gás carbônico tende a subir pelos poros e fissuras do solo e escapar novamente para a atmosfera.

Uma possível solução para essa situação está sendo proposta por pesquisadores, como o professor de engenharia de petróleo e geossistemas na Universidade do Texas, em Austim, Steven L. Bryant, que dirige o Centro de Fronteiras de Segurança de Energia Subterrânea e é responsável por um programa de pesquisa financiado pela indústria que se concentra no armazenamento de CO2 geológico. Em seu artigo intitulado Uma solução integrada para o carbono” e publicado na revista Scientific American Brasil, nº 139, de dezembro de 2013, páginas 64-69, ele descreve uma dessas propostas que consiste basicamente em captar o CO2 emitido antes que ele vá para a atmosfera e dissolvê-lo em salmoura captada do subsolo, que posteriormente é devolvida para o fundo oceânico.

Isso é possível porque, quando o CO2 é dissolvido na água, ele torna o líquido mais denso, ao contrário do que ocorre com muitos gases. Com isso, o dióxido de carbono dissolvido na salmoura tenderia a afundar e não escaparia para a atmosfera, ficaria armazenado no subsolo de forma mais segura.

No entanto, a dissolução de gás carbônico em salmoura nas condições de temperatura e pressão ambientes demora muito tempo. Por isso, seria necessário perfurar um poço até a salmoura do subsolo que se encontra em altas temperaturas e sob pressões elevadas, transportá-la para a superfície, comprimi-la, injetar o CO2 e devolvê-la novamente para o subsolo.

O estabelecimento desse processo é muito caro e considerado inviável. Entretanto, uma ideia para resolver essa questão foi apontada pelo também professor de engenharia de petróleo da Universidade do Texas, em Austim, Gary Gope, que foi a de explorar o Golfo do México, que tem aquíferos profundos ricos em metano dissolvido. A solução consiste em extrair esse metano da salmoura, que é o principal componente do gás natural, e utilizá-lo para a geração de energia elétrica. Para se ter uma ideia, alguns cálculos já indicaram que a salmoura existente em subterrâneos na costa americana do Golfo do México é capaz de armazenar um sexto das emissões de gás carbônico produzidas pelos Estados Unidos e, ao mesmo tempo, pode atender também a um sexto da demanda de gás natural desse país.

Tubulação com gás natural (metano), petróleo e água
Tubulação com gás natural (metano), petróleo e água

Além disso, mais um aspecto poderia compensar os gastos: a menos de 64 km da superfície da Terra existe uma camada denominada magma, cuja temperatura é elevadíssima, podendo atingir 6000ºC. Assim, esses aquíferos são suficientemente quentes para tornar a salmoura captada do subsolo uma boa fonte de energia geotérmica. A energia geotérmica usada atualmente se baseia na captação do vapor gerado nos reservatórios profundos de água e vapor que até mesmo ferve em contato com o magma, por meio de tubos e canos apropriados. Esse vapor faz lâminas de uma turbina girar, e um gerador transforma a energia mecânica em elétrica.

Estação de usina geotérmica
Estação de usina geotérmica

Assim, a combinação em um único sistema desses três processos (armazenar CO2 no subsolo, extrair o metano da salmoura e obter aquecimento geotérmico dessa salmoura) torna-se um processo economicamente viável, pois é autossustentável.

Para entender melhor o funcionamento desse processo, que é um circuito fechado, veja o quadro a seguir:

Esquema de processo de dissolução de CO2 em salmoura subterrânea
Esquema de processo de dissolução de CO2 em salmoura subterrânea

1. A salmoura do subsolo profundo é captada. Graças à profundidade em que se encontra, ela está sob alta pressão e, por isso, a energia para trazê-la para a superfície é bem pequena;

2. Essa salmoura contém metano dissolvido, sendo que, ao chegar à superfície, a pressão diminui e parte desse gás sai da salmoura, ando a ser capturado e transportado por oleodutos para ser usado como fonte de energia (gás natural);

3. A salmoura vai para um trocador de calor, onde aquece um circuito de água, que é enviada para edificações próximas. Essa energia geotérmica pode ser usada para aquecer ambientes, águas de residências e em trocadores de calor que convertem ar quente em ar frio em aparelhos de ar-condicionado;

4. O CO2 é injetado na salmoura fria, o que faz com que mais metano saia dela e seja também conduzido pelos oleodutos, obtendo-se uma maior quantidade de gás natural;

5. A salmoura contendo o CO2 dissolvido e sob alta pressão é bombeada novamente para o subsolo de onde foi tirada, e o gás carbônico fica ali armazenado permanentemente.

Quando grandes volumes de líquidos são injetados no subsolo, há o perigo de haver terremotos. Porém, nesse processo, ao mesmo tempo que se injeta salmoura, também se retira salmoura, portanto, não há esse risco. É preciso também uma construção e operação bastante cuidadosas a fim de impedir vazamentos de metano.

Essas ideias ainda estão em desenvolvimento, mas se sabe que, para construir todo o aparato necessário para um sistema como esse, seriam necessários tempo e custos que poderiam ser reados para os consumidores de eletricidade. Mas qualquer outra medida para significativamente reduzir as emissões de CO2 para a atmosfera também demandaria grandes custos e tempo. Resta esperar para ver se realmente essa técnica de salmoura-sequestro funcionará na realidade assim como parece funcionar na teoria.


Por Jennifer Fogaça
Graduada em Química

No fundo oceânico existem imensos depósitos de salmoura rica em metano que podem tornar-se  uma solução para reduzir as emissões de gás carbônico
No fundo oceânico existem imensos depósitos de salmoura rica em metano que podem tornar-se uma solução para reduzir as emissões de gás carbônico
Escritor do artigo
Escrito por: Jennifer Rocha Vargas Fogaça Escritor oficial Brasil Escola
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FOGAçA, Jennifer Rocha Vargas. "Possível solução para reduzir as emissões de CO2"; Brasil Escola. Disponível em: /quimica/possivel-solucao-para-reduzir-as-emissoes-co2.htm. o em 25 de maio de 2025.
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