O retrato de Dorian Gray é um romance do escritor irlandês Oscar Wilde. A obra faz parte do esteticismo, movimento literário antirrealista, e apresenta idealização e valorização do prazer e das sensações. A narrativa conta a história de Dorian Gray, um belíssimo jovem retratado pelo pintor Basil Hallward.
No entanto, algo extraordinário acontece, pois Dorian se mantém jovem enquanto a pintura envelhece. Além disso, sob influência de Lord Henry, Dorian Gray busca os prazeres sem se importar com nada nem ninguém, e acaba até mesmo cometendo um assassinato para ocultar seu segredo.
Leia também: Hamlet — tragédia de William Shakespeare em que o protagonista busca vingar a morte do pai
Tópicos deste artigo
- 1 - Resumo sobre O retrato de Dorian Gray
- 2 - Análise da obra O retrato de Dorian Gray
- 3 - Características da obra O retrato de Dorian Gray
- 4 - Por que O retrato de Dorian Gray foi censurado?
- 5 - Contexto histórico da obra O retrato de Dorian Gray
- 6 - Oscar Wilde, autor de O retrato de Dorian Gray
Resumo sobre O retrato de Dorian Gray
- O retrato de Dorian Gray é um romance do escritor irlandês Oscar Wilde.
- Dorian Gray é um jovem de extrema e fascinante beleza.
- O pintor Basil Hallward decide pintar um retrato de Dorian Gray.
- Ao ver o retrato, Lord Henry, o amigo de Basil, também fica fascinado pelo rapaz.
- Basil dá o retrato de presente a Dorian Gray, o qual, em um momento de melancolia, deseja que o quadro envelheça enquanto ele permaneça jovem.
- Dorian Gray e Lord Henry ficam amigos, e Henry cuida de corromper o rapaz.
- Dorian pretende se casar com a atriz Sybil Vane, mas acaba rejeitando a moça, o que a leva ao suicídio.
- O retrato começa a mostrar sinais da degeneração que toma conta da alma de Dorian Gray.
- Dorian esconde o retrato em um quarto, e só anos depois leva Basil para ver a obra.
- Nessa ocasião, assassina o pintor e consegue se desfazer do corpo.
- No final, Dorian Gray tenta eliminar o retrato, dando-lhe uma facada, e, assim, morre enquanto o retrato rejuvenesce novamente.
Análise da obra O retrato de Dorian Gray
→ Personagens da obra O retrato de Dorian Gray
- Basil Hallward: pintor
- Francis: criado de Dorian Gray
- James Vane: irmão de Sybil
- Lady Agatha: tia de Henry
- Lady Brandon: conhecida de Basil
- Lady Gwendolen: irmã de Harry
- Lady Henry: esposa de Lord Henry
- Lady Margaret Devereux: mãe de Dorian
- Lord George Fermor: tio de Henry
- Lord Henry Wotton (Harry): amigo de Basil
- Lord Kelso: avô de Dorian
- Mr. Alan Campbell: conhecido de Dorian
- Mr. Hubbard: moldureiro
- Mr. Isaacs: credor de Mrs. Vane
- Mrs. Leaf: governanta de Dorian Gray
- Mrs. Vane: mãe de Sybil
- Parker: mordomo de Basil
- Sibyl Vane: atriz
- Victor: criado de Dorian Gray
- Outros personagens:
- Adrian Singleton
- Duque de Berwick
- Duque de Perth
- Duquesa de Harley
- Duquesa de Monmouth
- Ernest Harrowden
- Lady Alice Chapman
- Lady Narborough
- Lady Radley
- Lady Ruxton
- Lady Thornbury
- Lord Faudel
- Lord Kent
- Lord Staveley
- Mr. Chapman
- Mr. Erskine de Treadley
- Mrs. Erlynne
- Sir Geoffrey Clouston
- Sir Henry Ashton
- Sir Thomas Burdon
→ Tempo da obra O retrato de Dorian Gray
A narrativa apresenta tempo cronológico. Já a época em que transcorrem os fatos narrados não é especificada pelo narrador. Tudo indica que a história se a no século XIX, ou seja, nos anos que antecedem a publicação do livro em 1890. De qualquer forma, a não especificação dá à obra certo caráter de atemporalidade ou universalidade.
→ Espaço da obra O retrato de Dorian Gray
A ação do romance se a em Londres, na Inglaterra.
→ Narrador da obra O retrato de Dorian Gray
A obra conta com um narrador onisciente, conhecedor das motivações interiores dos personagens.
→ Enredo da obra O retrato de Dorian Gray

Lord Henry (Harry, para os íntimos) está no ateliê do pintor Basil. Contempla o retrato que esse pintor está fazendo de um belíssimo jovem. Basil não quer expor a obra. Conversam sobre arte e sobre a beleza do rapaz retratado, que Henry fica então sabendo que se chama Dorian Gray. O pintor conta que conheceu Dorian há dois meses, em uma recepção na casa de Lady Brandon.
Basil Hallward ficou fascinado com o jovem e decidiu fazer um retrato dele. Lord Henry se interessa pelo rapaz pintado, quer saber mais sobre ele e também conhecer o tal rapaz. Afinal de contas, Basil se mostra fascinado por ele, como se Dorian Gray fosse a personificação da beleza, ou melhor, a personificação da arte.
Enquanto conversam, o mordomo os interrompe para anunciar a chegada de Dorian Gray. Dorian é apresentado a Henry. Enquanto posa para o pintor, Dorian conversa com Henry, que lhe expõe seus pensamentos sobre o comportamento humano. Dorian pede para descansar e vai para o jardim.
Lord Henry o segue e lhe fala da importância da juventude que o rapaz ainda tem, mas que um dia perderá. Henry começa a exercer grande influência sobre Dorian. Nesse dia, Basil conclui o retrato. O rapaz olha melancólico para a pintura, pois ela o faz recordar de que ficará velho, enquanto o retrato será eternamente jovem.
Então Dorian expressa o desejo de ficar eternamente jovem e de o retrato envelhecer. Diz que daria qualquer coisa, até a própria alma, para que isso acontecesse. Basil dá o retrato de presente a Dorian Gray. Depois, Henry vai até a casa de seu tio George para saber mais sobre a família de Dorian Gray, pois sente vontade de possuir ou dominar o rapaz.
E consegue, pois Dorian Gray fica fascinado com as ideias de seu agora amigo Harry (Lord Henry), com quem a a conviver e começa a frequentar sua casa. Dorian conta a Harry que está fascinado por uma atriz chamada Sibyl Vane, porém sofre forte influência de Lord Henry, o qual quer saber tudo sobre a tal atriz.
Logo Sybil se mostra apaixonada por Dorian Gray. Sua família tem uma dívida com um tal Mr. Isaacs. É Harry quem informa a Basil que Dorian Gray vai se casar. Dorian vai assistir a mais uma apresentação de Sybil, porém, nessa ocasião, sua interpretação é péssima, e Dorian diz isso para ela.
Sybil confessa que o ama e, por isso, o teatro já não é a coisa mais importante para ela. Isso faz com que ele perca o interesse por ela, mas, como já a pediu em casamento, está disposto a se casar. Diz isso a Harry, antes que ele lhe conte que Sybil Vane morreu, aparentemente se matou ao ser rejeitada por Dorian.
No mesmo dia que tem a notícia da morte de Sybil, Dorian vai à ópera e conhece a irmã de Harry. Basil fica chocado com a atitude do amigo. Além disso, Dorian Gray começa a perceber alguma alteração no retrato e decide trancar a obra no velho quarto de estudo. Assim, na véspera de completar 38 anos, vê, à noite, Basil Hallward, o qual está levando uma mala.
Dorian finge não o reconhecer, mas Basil o chama. Está indo para Paris, onde vai ficar durante seis meses. Na casa de Dorian, Basil diz que estão falando as coisas mais horríveis acerca de Dorian, o qual teria um comportamento devasso e indigno de um cavalheiro. Dorian decide mostrar o retrato a Basil.
Basil fica horrorizado com o que vê, pois o retrato não mostra mais a beleza, mas a fealdade, é um reflexo da alma corrompida de Dorian Gray. Então Dorian mata Basil Hallward a facadas. Pede ajuda a um tal Alan Campbell para se desfazer do corpo. Dorian sabe algum segredo de Campbell, e o chantageia para conseguir sua ajuda.
Em outra ocasião, Dorian é parado pelo irmão de Sybil, o qual culpa Dorian pela morte da irmã. Ele pretende matar Dorian para se vingar. Dorian diz que não conheceu a tal Sybil, pergunta ao homem há quanto tempo ela morreu. Como faz dezoito anos, Dorian diz para irem até debaixo de um candeeiro.
Assim, quando iluminado, James percebe que o rosto de Dorian é jovem, com a aparência de um homem de vinte e poucos anos. Portanto, James Vane conclui que aquele homem não é Dorian Gray e que quase cometeu um erro. Assim, Dorian Gray caminha rumo a um final feliz.
Escapou da vingança de James Vane. Além disso, Alan Campbell se mata e leva o segredo de Dorian com ele. Curioso para ver as últimas alterações do retrato, Dorian vai até o quarto onde este está trancado. Não há grandes alterações, apenas um traço de astúcia e hipocrisia, mas o retrato continua abominável.
Por fim, Dorian Gray decide destruir o retrato e o apunhala com a mesma faca com que matou Basil Hallward, com o intuito de eliminar o ado e viver em paz. Com esse ato, Dorian morre com uma faca cravada no peito, envelhecido, enrugado e com uma cara repugnante, enquanto a pintura volta ao aspecto original, ou seja, o retrato de um belíssimo jovem que não existe mais.
Características da obra O retrato de Dorian Gray

→ Estrutura da obra O retrato de Dorian Gray
O romance O retrato de Dorian Gray tem 20 capítulos.
→ Estilo literário da obra O retrato de Dorian Gray
As obras de Wilde são de difícil classificação em um estilo de época. O autor fazia parte do movimento artístico conhecido como esteticismo, o qual defende que a beleza é o sentido da arte. Portanto, trata-se de uma estética da arte pela arte, de forma a se opor ao realismo.
A obra de Wilde também não é romântica, pois não apresenta exagero sentimental. Assim, sua obra é marcada por idealização, hedonismo e sensorialismo. Além disso, O retrato de Dorian Gray tem traços da literatura fantástica.
Por que O retrato de Dorian Gray foi censurado?
O livro sofreu uma censura prévia antes de sua publicação. Segundo o doutor em Letras Auricélio Soares Fernandes:
[...] apesar do romance ter sido modificado na segunda edição, em livro, no intuito de se tornar mais aceitável pelo público, não fugiu às críticas negativas da época. Para se “adequar” às normas sociais e culturais do periódico em que foi publicado, considerável parte do conteúdo original escrito por Wilde fora redigido e reescrito por Stoddart [editor]. Dentre esses, houve a supressão de trechos que sugeriam afeições homoeróticas entre o pintor Basil Hallward e Dorian Gray e outros personagens. Preocupado com a recepção dos leitores da época, Stoddart ainda eliminou trechos, “que, a seu ver, pudessem incitar à heterossexualidade promíscua ou ilícita, como as referências às amantes de Dorian Gray”.
Contexto histórico da obra O retrato de Dorian Gray
Tudo indica que a história se a no período vitoriano, que se refere ao reinado da rainha Vitória, que durou de 1837 a 1901. Uma era de riqueza para a Inglaterra, advinda do colonialismo e da industrialização, mas também de extrema desigualdade social. A arte realista estava em voga e houve grande valorização cultural.
No entanto, ao contrário de obras realistas, O retrato de Dorian Gray não apresenta crítica social e coloca em foco a elite inglesa. Isso porque a obra surge da intenção de se refletir acerca da beleza estética e da própria arte. Desse modo, o romance trata de temas universais, como beleza, arte, bem e mal.
e também: 20 livros clássicos da literatura mundial
Oscar Wilde, autor de O retrato de Dorian Gray

Oscar Wilde é o escritor de O retrato de Dorian Gray. Ele nasceu em 16 de outubro de 1854, em Dublin, na Irlanda. Estudou na Inglaterra, onde ou a morar. Ele se casou, em 1884, e teve dois filhos, mas também tinha relações amorosas com homens. Assim, em 1891, conheceu o jovem Alfred Douglas (1870-1945), filho do marquês de Queensberry (1844-1900), que não aceitou a relação amorosa entre os dois.
O autor decidiu processar o marquês, que o chamara de “sodomita”, mas Wilde acabou virando réu, já que a homossexualidade na época era crime na Inglaterra. Foi condenado a dois anos de trabalhos forçados, em 1895. Cumprida a pena, humilhado, o escritor foi morar na França, onde usava o nome de Sebastian Melmoth para não ser identificado. Faleceu na França em 30 de novembro de 1900.
Crédito de imagem
[1] Companhia das Letras (reprodução)
Fontes
BARBOSA, Mariana de Oliveira Lopes. Era Vitoriana. Disponível em: /historiag/era-vitoriana.htm.
FERNANDES, Auricélio Soares. Espelhos e retratos de Dorian Gray na série televisiva Penny Dreadful: configurações do gótico na construção do personagem de Oscar Wilde e de John Logan. 2020. Tese (Doutorado em Letras) – Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2020.
KANTEK, Helena Teresa Barreto; SOUZA, Andrea Scuissiatto Marés de. O pensamento estético-artístico de Oscar Wilde em A decadência da mentira. Memorial TCC, Curitiba, v. 2, n. 1, 2016.
POETRY FOUNDATION. Oscar Wilde. Disponível em: https://www.poetryfoundation.org/poets/oscar-wilde.
SILVA, Leandro Souza Borges. O amor que não ousa dizer seu nome: notações homoculturais em O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde. PHILIA, Porto Alegre, v. 2, n. 1, jun. 2020.
SORANZO, Thaís Marques. Na encruzilhada entre a vida e a arte: um estudo de The picture of Dorian Gray, de Oscar Wilde, e Esther Waters, de George Moore. 2020. Dissertação (Mestrado em Teoria e História Literária) – Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2020.
WILDE, Oscar. A arte e o artesão. Tradução de Luis Felipe Dias Ribeiro e Mateus Vitor da Silva Lima. Mafuá, Florianópolis, n. 34, 2020.